quinta-feira, 28 de setembro de 2017

O que ficou por dizer no Aniversário da Banda

    Falar de improviso na presença de pessoas importantes não é para qualquer bicho careta: quase sempre se diz o acessório e se omite o essencial. E assim comigo aconteceu.
E foi grave, porque não se tratava de um aniversário qualquer, de uma qualquer entidade. Era o último aniversário do século e do milénio da nossa mais antiga colectividade, e para além disso, por rara coincidência, o dia do funeral do seu maior e mais prestigiado obreiro.
    Poderia tentar desculpar-me como o nosso maior poeta, dizendo que “o meu verbo é escrito e não falado” mas isso soava a falso, como muitas palavras que ali foram ditas, pois todos os que me conhecem sabem que procuro ser autêntico e falo pelos cotovelos.
   Se o tivesse escrito teria, sem dúvida, referido o que efectivamente disse sobre as minhas relações de inesquecível amizade, por intermédio do Armandinho, com três das mais destacadas personalidades ligadas à Banda: O Regente Sargento Ferreira, autor da “Alma Mater”, cujos acordes não sairam dos ouvidos dos presentes em cada fase da cerimónia; Sebastião Silva, o dirigente associativista que com ela e os “Socorros Mútuos” mais se identificou, durante quase toda a sua vida, e o Professor do Conservatório de Música do Porto, José Neves. Sobre este, porque havia entre os presentes pessoas de longe que tinham necessidade de se ausentar, quase tudo ficou por dizer. Ficou por lembrar aos dos meu tempo e informar os da presente geração, que ele não sendo de cá, foi gratuitamente o compositor, ensaiador e regente de orquestra das 3 revistas de costumes locais que maior êxito obtiveram, que eu saiba, na nossa terra: 
    “Quem passa por Amarante” (1953), “Lérias de Amarante” (1955) e “Amarante Ontem e Hoje” (1956), as quais foram à cena graças à indomável força de vontade - pois não havia conhecimentos técnicos nem quaisquer apoios oficiais ou do mecenato, como há hoje - de dezenas de anónimos amarantinos que desse modo tentaram servir a arte e a cultura, auxiliando cumulativamente várias associações como a Banda, os Bombeiros e a Misericórdia.
    Ficou por fazer o apelo aos escritores, artistas, gestores de empresas, directores de colectividades, administrativos e ao público em geral, que contribuam com a sua quota-parte para restituir à nossa maior e mais antiga casa de espectáculos a função para a qual foi sonhada e nascida. Grande parte da responsabilidade da preparação do “material humano”, porque o físico já existe na posse do Município, cabe às escolas e aos pais que têm a obrigação, mais premente do que nunca, de aconselhar o melhor, o mais sadio caminho aos seus descendentes.
    Por último, como não podia deixar de ser, umas palavras breves e simples, como ELE o foi mais do que ninguém, para reafirmar o que todos sabem:
    - “Ele era um “santo” para tudo o que interessava à sua e nossa terra, ARMANDO situações das quais por inúmeras vezes os outros colhiam os frutos (os louros e os lucros). Por isso parecia pertencer a um outro mundo, o mundo dos ANJOS como o seu nome indicava”
    E que só alguns dizem:
    - “Mas não sabia dizer NÃO. Por isso não imitou CRISTO que se negou muitas vezes aos fariseus e vendilhões do templo e, com astúcia, convenceu do seu erros que queriam apedrejar MARIA MADALENA”.
    Também, nesse aspecto, não sei se imitou o Professor José Neves que recusou um valioso prémio, por não ter consentido que na sua composição fossem introduzidos alguns acordes dum hino que se identificava com o anterior regime.
    - Não foi assim, Armandinho?
    Ainda vamos falar acerca disso. É que o seu corpo cumpriu o agouro “dos 2000 não passarás” porque não pode dizer “NÃO”, mas o seu espírito estará sempre bem vivo no coração e na mente dos Amarantinos e espero realizar as últimas palavras que lhe disse e que o fizeram tremer:
    - Quero que esteja presente na comemoração do 60º Aniversário do ORFEÃO AMARANTINO e tenho a certeza de que você lá estará!...


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