sábado, 25 de setembro de 2010

Conta-me como foi...


O2 respirar (Revista dos Serviços Sociais da Caixa Geral de Depósitos) N°3 – Jul/Ago/Set 2008

Conta-me como foi...
As memórias de António Costa Neves, descritas na sua obra literária ou numa simples conversa, conduzem-nos por uma deliciosa viagem no tempo, com paragons pela própria história dos Serviços Sociais da Caixa Geral de Depósitos. Feche os olhos e deixe-se ir.


A obra editada em 2006, “Do Terreiro das Navarras ao Terreiro do Paço” relata os primeiros passos deste amarantino de 84 anos, aposentado da Caixa Geral de Depósitos e figura muito estimada. Costa Neves é a prova viva de que a capacidade de iniciativa e o empenho dão frutos, não só no âmbito das actividades culturais dos Serviços Sociais, como nos destinos individuais. Ciente que não é só dos grandes que reza a história e que, tal como dizia Hemingway, “nunca ninguém aprendeu a arte de literature em compendious”, Costa Neves não conheceu travões – ou se os conheceu, tratou de os contornar – a que as suas ambições ou os seus sonhos se realizassem.
Numa vívida conversa, documentada com toda a espécie de provas bem estimadas, o autor (vamos chamar-lhe assim, porque muito outros ofícios teve) abre o livro da história da sua vida, desde a mais tenra idade.


BOAS COMPANHIAS
Filho de peixe sabe nadir, isso já se sabe. E as primeiras braçadas, através do convívio com os avós, materno e paterno, “de quem herdou o gosto pela música, pelo teatro, pela pilhéria instantânea e pela tendência para ornamentar, com alguma fantasia, os seus pobres e raros escritos”, Segundo conta na sua obra.
Por outro lado, não lhe terá sido alheio o facto de nascer e crescer numa terra que foi berço de tantos vultos da cultura. Amadeu de Sousa Cardoso (cujas obras, na altura aínda não muito valorizadas, ornamentavam o primeiro posto de trabalho de Costa Neves) António Carneiro, Acáio Lima, Teixeira de Pascoais, Augusto Casimiro, Alexandre Pinheiro Torres, nasceram em Amarante e terão sido boa fonte de inspiração para o nosso entrevistado.


O GOSTO PELAS LETRAS
Os jornais entraram bem cedo na vida de Costa Neves. Aínda sem saber escrever jáandava, garoto, a ajudar na distribuição do Jornal de Amarante. Daí até começar a ajudar na tipografia, a meter o papel e a dobrar, foi um pulinho e mais tarde chegou o convite, por parte do filho do proprietário do jornal, para começar a escrever “umas coisas”.
Aos 15 anos o seu gosto pela escrita já era assumido. “Nunca quis propriamente ser jornalista”, contaa. “Tinha mais o bichinho das histórias e do teatro.” O lugar do de bibliotecário no Grémio dos Empregados do Comércio que lhe calhou com essa idade não poderia vir mais a propósito. “Não percebia nada daquilo, mas sabia que havia duas coisas essenciais, que eram o registo geral dos livros (nome e autor) e o registo dos empréstimos. Um dia entra-me por lá um tipo que eu não conhecia e fiquei muito assustado (na altura, quem trabalhava com livros estava sempre sujeito à censura). Ele disse-me que eu escusava de ficar com medo, porque era bibliotecário da faculdade de engenharia do Porto e tinha muitos livros em duplicado que gostaria de ceder à nossa biblioteca. Então, avaliou o meu método de funcionamento primário e lá o terá achado suficiente porque no mês seguinte enviou-nos 400 livros”, recorda com orgulho.
Mas para lá dos corredores da biblioteca, havia muito mais a explorer: a música e o teatro eram as outras paixões, e cedo o rapaz conseguiu integrar-se em grupos onde pôde desenvolver esse gosto.

E PELO MEIO, OS NÚMEROS
Cumprido o curso geral do liceu, o destino foi a comissão Reguladora do Comércio, onde de 1943 a 1947, teve o seu primeiro emprego. À noite, para ganhar prática, fazia o relatório das Finanças, com o objectivo de concorrer a Aspirante das Finanças, processo que iniciou em 1947.
O choque dos numerous com as letras nunca se deu, só porque na época ninguém tinha a veleidade de fazer “aquilo que gosta”. “Na altura, a necessidade de emprego era tão grande que não pensávamos muito se gostávamos de determinado trabalho”, confirma. As primeiras tentativas para ingressar a função pública saíram goradas, segundo conta, por reprovar nas várias inspecções médicas – myopia, estatura, ou supostos problemas cardíacos que nunca vieram a verificar-se ao longo de mais de 80 anos. O “hediondo crime” de ter assinado uma lista pelo MUD, ou o simples facto de “não ir à missa”, como lhe terá feito notar o president da Câmara da sua cidade, também nã terá facilitado esses processos.
O facto é que, em Agosto de 1947, foi chamado para a Caixa Geral de Depósitos, para assumer provisoriamente as funções de aspirante estagiário, na Sede em Lisboa. “Na altura, a Caixa, tinha falta de funcionários e estava preocupada com a competência e a honestidade dos empregados do que com aspectos de índole política”, explica Costa Neves.


LUGAR À CULTURA
Entre os ziguezagues normais de uma carreira na Institução Bancária, com transferências para o Porto, Loulé e Lisboa, novamente, Costa Neves sempre descobriu tempo para dedicar-se a outros interesses. A colaboração com variados jornaais (Jornal de Notícias, República, O Jornal de Amarante, entre outros), na area da cultura, foi uma constant. A música também sempre esteve presente, seja na composição, seja na participação do grupo coral da Caixa. Por outro lado, o Maio de 68 veio dar alento a um projecto de uma cooperativa de teatro, há muito desejada. “Essa cooperative de teatro foi o início de todas as actividades de âmbito de lazer dos Serviços Sociais”, consta Costa Neves. O grupo em questão, formado em 1971, veio a ser um dos mais importantes grupos de teatro da época. Chamava-se Os Hipopótamos.


O TRIUNFO DOS HIPOPÓTAMOS!
O nome do grupo, aparentemente pouco inspirado, tem explicação: “Quando houve essa ideia da cooperative das actividades culturais, fizemos um inquérito para saber qual era a percentage de funcionários da Caixa que liam, iam ao teatro, viam uma exposição, e o panorama era assustador! Aparentemente, os empregados da Caixa pouco mais faziam do que comer, dormer e trabalhar. Este nome surgiu, pois como uma forma autocrítica. Mais tarde, o nome foi alterado para “Teatro da Caixa”. A verdade é que este grupo ganhou um dinamismo incrível e no ano de 1981 veio a apresentar uma peça, “O Tio Vânia”, encenada por Rogério de Carvalho, que foi considerada o maior espectáculo do ano.
Até lá chegar, foi necessário muito empenho e dedicação. “Tudo começou numa assembleia-geral, à qual compareceram alguns colegas que já faziam teatro – o Carlos Vieira de Almeida, O Luís Norberto, o Raimundo – e que, não podendo integrar o grupo, foram fundamentais para ajudar a montar o project.” Sob o seu conselho, Costa Neves estabeleceu contactos para conseguir um dos melhores encenadores da época, e foi assim que contratou Costa Ferreira (mais tarde, encenador do D. Maria).
As actividades do grupo de teatro começaram com a formação: “o objective principal destes grupos de teatro (Lisboa, e posteriormente Porto) era a formação. O Costa Ferreira dizia isso: o espectáculo é o telhado. Nós temos de começar pelos alicerces.” Para além das aulas, promoviam colóquios, organizavam grupos par air ver espectáculos.
Aos poucos, formavam actors, técnicos, e até o próprio public, e Segundo Costa Neves, foi das actividades culturais, patrocionadas pelos Serviços Sociais, mais importantes da Instituição.

TER OU SER?
Segundo Costa Neves, há dois caminhos possíveis a seguir: o do ter, e o do ser. O autor adopta, sem hesitações, o Segundo. E o conhecimento e a cultura são, para ele, os únicos veículos que nos conduzem até indivíduos completos. As experiências culturais na Caixa confirmaram essa ideia. “A mensagem que se queria fazer passer era a de que o teatro e a música são indispensáveis na nossa formação. Nota-se, por exemplo, uma diferença muito grande entre as pessoas que se dedicam ao teatro, e as outras. No comportamento, na mente mais aberta, na generosidade, na forma como se lida com os outros (até no atendimento public), tudo muda”, defende.
Tudo mudou, certamemnte, para este grupo de entusiastas que deram os primeiros passos nas actividades culturais dos Serviços Sociais, e tudo mudou na vida de Costa Neves, que contraria todas as ideias feitas do aposentado. Aos 84 anos, os projectos ainda não abrandaram. A memória não o atraiçoa (muito pelo contrário, as histórias de há 60 anos estão bem presents), e o escritor continua a produzir material que ainda pode vir a ser publicado. “O que escrevo tem pouco valor literário”, diz. “Chamam a isto que eu faç memorialismo testemunhal. São apenas historiazinhas, mas quem as lê fica a conhecer aquela realidade”, afirma com humildade. Entre os seus escritos, há uma dezena de histórias passadas ao balcão da CGD, ainda não publicadas. Quem sabe, não sera essa a próxima obra de Costa Neves?


A MELHOR QUADRA DO ANO
A dar provas da sua imparável criatividade, Costa Neves acumulou mais um prémio logo após a realização desta entrevista. Mais uma vez foram as suas quadras, que sempre o acompanharam ao longo da vida, a destacar-se entre tantas outras e a conseguir a proeza de vencer a Melhor Quadra do 80° Concurso de Quadras de S. João promovido pelo Jornal de Notíc ias.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

JORNAL DE AMARANTE 09/11/2006

By Armindo Mendes


Costa Neves apresentou o seu primeiro livro
Sala da Biblioteca encheu-se para ouvir o autor


O auditório da Biblioteca Municipal Albano sardoeira encheu-se para assistir à apresentação do livro “Histórias do Covelo – Do Terreiro das Navarras ao Terreiro do Paço”.


Coube a António Cardozo, director do museu Amadeo de Souza-Cardoso, fazer a apresentação do primeiro livro editado por Costa Neves, que considerou o título daquela obra literária “bastante sugestivo”.


“Costa Neves apresenta-nos um livro que tem a ver com um ciclo de memórias vividas”, anotou, prosseguindo, a propósito dos relatos no livro sobre o Covelo, que, segundo documentos da idade media, Amarante era uma “rua comprida”.


“Amarante era uma rua com vida”, salientou, citando algumas das memórias que Costa Neves relata à volta das vivências antigas na rua do Covelo.


Referindo-se ao Covelo como uma rua de passagem, António Cardoso recordou a sua infância em que vindo do Salvador por ali passava todos os dias para o colégio.


“O Covelo tem a ver com ligações e religações sentimentais, afectivas e territoriais”, considerou.
“Acabamos por ser implicados no livro, pois o Covelo acaba por ser também para todos nós um território das nossas vivências”, disse ainda.


“Vemos neste livro um mosaico de intenções respondendo a um memorialismo que é querido au autor, mas é também um livro que pressupõe outras leituras”, prosseguiu.


“Nas entrelinhas consegui ler um estudo histórico, sociológico”, afirmou, enquanto salientava que o autor utiliza um discurso directo como sempre o caracterizou na vida.


António Cardoso falou ainda de algumas figures retratadas no livro, umas mais populares do que outras, mas todas referências da sociedade amarantina.


Na sua intervenção, Costa Neves começou por se assumer como “um contador de histórias”.


Costa Neves, de pé, com o seu jeito solto e espontâneo, deixou-se lever pelas emoções das memórias que lembrou desde os tempos de menino.


Cantarolando, parafraseou algumas rimas que aprendera, ainda menino inocente, primeiro com os ceguinhos antes de ir para a escola e depois com o professor Costinha, que lhe ensinou os primeiros versos de Pascoaes.


“Quem ler o meu livro vai verificar que há uma ligação acentuada à minha infância”, disse com alguma nostalgia dos longos anos que entretanto passaram.


Entre palavras e algumas cantigas, Costa neves deliciou-nos com várias das memórias que compõem o livro.


No início da sessão de apresentação do livro falou Mário peixoto, presidente do Grupo de Amigos do Museu Amadeo de Souza-Cardoso, que manifestou grande congratulação pela edição daquele livro. “As nossas ruas estão cheias de vivências e histórias e o Covelo é talvez das mais ricas”, disse a propósito, realçando que aquela edição assume um papel fundamental na transmissão dessa cultura que está viva e é necessário manter viva.


Sobre Costa Neves, referiu que é uma “pessoa que respire cultura”.


Mário Peixoto terminou afirmando que o livro é “uma importante contribuição para a cultura amarantina”.

TRIBUNA DE AMARANTE 25/09/2006

By ANTONIO PEDRO

António Peixoto da Costa Neves, do seu nome, Costa Neves assim lhe chamam os grandes amigos, Né do Covelo assim era conhecido nos seus tempos de rapaz pelos seus colegas de toda a espécie, quando se ganhavam e perdiam as “guerras” na ínsua dos Frades o “paraíso da ganapada” acaba de editar um livro que jávinha sendo dado a conhecer nas páginas da imprensa amarantina: “Do Terreiro das Navarras ao Terreiro do Paço”. Nasceu no Covelo, em cepelos, a 20 de Março de 1924.


É um livro cheio de histórias de Amarante, do Covelo, de muitas partes da nossa cidade, onde se retratam muitas das figures que por aí andaram nos tempos áureos (para o tempo) de Amarante e também de outras histórias onde se refere à sua vida na Caixa Geral de Depósitos, e daí o título.


Quem o ler, vai recorder pessoas que conheceu, histórias em que tomou parte, vai chorar de alegria e de tristeza, vai rir, certamente noutras ocasiões e vai dizer certamente, quando acabar de o ler que value a pena alguém “vir a terreiro” com tanta coisa que estava esquecida. E nós, já quase velhos, mas ainda muito mais novos no tempo e que conhecemos muitos dos “artistas” destes filmes que vamos lendo todos os dias e também sabemos algumas histórias iguais ou parecidas. “Emigrantes” no Covelo temos que dizer que value a pena o esforço do Né (desculpe a ousadia) para trazer este livro aos amarantinos e muito mais às gentes do também já mais que nosso Covelo.


E, por isso mesmo, não podemos, ninguém poderá, seja lá de onde for e onde estiver, contrariar aquilo que vem nas primeiras páginas e que um dia foi escrito por Teixeira de Queiroz (o Literato) assim lhe chamavam os mais velhos e que conhecemos quando andava pela “Flor do Tâmega” com o seu livro “a mulher que destruiu o amor”, algum tempo antes de embarcar para o Brasil, onde faleceu, quando se preparava para regressar a Amarante, certamente uma terra que ele até já teria dificuldades em conhecer.

Quando for precisa vida,
Alegria sã, desvelo,
Não há gente mais garrida,
Mais simples, divertida,
Do que a gente do Covelo.
Teixeira de Queiroz

Não há verdade maior que esta, apesar de hoje od do Covelo já nem de cá serem e, naturalmente a adaptação foi muito mais difícil.


No livro, que temos a certeza sera um êxito junto dos amarantino a até principalmente das gentes do Covelo, há muitas histórias, entre elas algumas referents a uma figura que foi ímpar na nossa terra – o SEIXAS – de que todos, quase de certeza ouvimos falar e até conhecemos alguma história, principalmente aquela das “alminhas pintadas que fugiam para o Céu”.

Parabéns Costa Neves. O seu livro é “Amarante Antiga”.